Pesquisar este blog

sábado, 3 de agosto de 2013

Da cadeia, Andinho declarou 'guerra' a policiais após ameaças a traficantes



01/08/2013 12h44 - Atualizado em 01/08/2013 13h07

Da cadeia, Andinho declarou 'guerra' a policiais após ameaças a traficantes

Grampos telefônicos com autorização da Justiça foram feitos pelo Gaeco.
Em conversa interceptada, ele dá ordens para atacar agentes com fuzis.

Do G1 Campinas e Região
106 comentários
Escutas telefônicas obtidas pela EPTVconfirmam que um dos criminosos mais perigosos do país, Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, continua no comando do tráfico de drogas no interior do estado de São Paulo. Mesmo preso na penitenciária de Presidente Venceslau (SP), considerada pelo governo do estado como de segurança máxima e onde cumpre pena de 400 anos desde 2002, ele tinha acesso a telefone e declarou 'guerra' à polícia após ter membros do bando ameaçados e sequestrados.

Foi o que apontou os grampos telefônicos feitos com autorização da Justiça e o relatório do Ministério Público (MP) que investiga o envolvimento de traficantes da quadrilha de Andinho com policiais civis de Campinas (SP) e São Paulo (SP), que recebiam propina para não fiscalizarem a área de atuação dos criminosos, segundo investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
A região do São Fernando, que abrange pelo menos oito bairros da área oeste de Campinas, ficou conhecida como rota de tráfico de drogas comandada região por Wanderson Lima. Andinho também foi acusado pela morte do prefeito Antonio da Costa Santos (PT), o Toninho, em 2001, e por pelo menos 19 sequestros. Entre eles o das irmãs Rosana e Sonia Moreira, em 2002, em Americana (SP). Elas ficaram reféns por 24 dias e foram libertadas em um matagal.
Apesar de todos os crimes aos quais responde, Andinho usa o telefone celular a qualquer hora do dia para comandar a ação dos traficantes de drogas em Campinas e ainda negociar com quem deveria justamente coibir esta prática criminosa. Desde outubro do ano passado, o MP trabalhou nestas investigações. Durante nove meses, com autorização da Justiça, ouviu centenas de conversas entre criminosos e policiais do Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico (Denarc).
Os grampos mostraram que a quadrilha não só agia com a conivência de muitos agentes, como pagava propina para que eles não fiscalizassem o tráfico de drogas na região de Campinas. Alguns trechos destas conversas foram exibidos com exclusividade pelo Fantástico em julho. O conteúdo completo das escutas foram obtidos pela EPTV. Em uma ligações, os policiais negociam o dinheiro com traficantes e fazem ameaças.
Policial: "Por que a gente não resolve isso aí meu?"
Escotão: "Quanto vocês 'pegou' ali só pra ver se o menino não 'tá' mentindo 'prá nóis'?"
Policial: "Isso ai a gente conversa pessoalmente. Como 'nóis' vamos 'fazê' para se encontrar? O barato é o seguinte, meu, vocês não vão trabalhar, entendeu? 'Fomo' aí ontem, 'vamo' aí hoje e 'vamo' aí no sábado. 'Tamo' indo prá aí meu. Nós 'tamo' saindo daqui, 'vamo' bater em vocês. Satisfação dada é meia dívida paga, meu. Pelo menos liga. Pelo menos atende o radinho".
Lucas Escotão, que aparece na conversa, é integrante da quadrilha de Andinho e segundo os promotores do Ministério Público tem atuação intensa em todas as operações do esquema de tráfico de drogas no bairro do São Fernando, em Campinas. Ainda de acordo com o Gaeco, ele participa também da distribuição da drogas para outra regiões da cidade e chegou a ser sequestrado pelos policiais.
Em outra parte dos diálogos os policiais pressionam para receber o pagamento e fazem ameaças.
Policial: "Eu tive uma consideração por você até agora, só que você não 'tá' tendo por mim. Você não quer vir trocar uma ideia comigo? Eu tô indo embora."
Codorna (traficante): "Não, entendi senhor. Mas deixa eu falar 'prô cê'. 'Tô' sem nenhum real. Não tenho dinheiro 'prá' nada, senhor".
Policial: "Então deixa quieto. Eu vou fazer o meu 'trampo' e a gente conversa em outra ocasião, firmeza?"
Codorna (traficante): "Ou então o senhor espera uns 30 dias 'prá' eu vender minha casa ali, meu"
Policial: "Não, deixa quieto. Seu amigo 'tá indo pra dentro', falou? Você vem com o que foi combinado, que até agora você não veio, você não deu a cara, você não deu satisfação".
Codorna (traficante): "Eu 'tô' fazendo de tudo 'prá' vender, pode ver que a casa 'tá' lá parada. Eu 'tô' vendendo a casa 'prá' chegar 'pro cêis' sim, meu."
"Codorna" é Agnaldo Aparecido Simão. Para os promotores, ele é o grande operador do tráfico na região do São Fernando. Recebe ordens diretas de Andinho e também é responsável pela segurança do esquema. Ele foi sequestrado e teve a família mandida refém, uma forma para os policiais pressionarem pelo pagamento da dívida que não havia sido paga.
Desde o início das interceptações telefônicas, em outubro de 2012, até março deste ano, Andinho dá ordens de dentro da penitenciária para os traficantes do lado de fora para pagar o valor pedido pelos policiais. Depois disso, diante das ameaças, sequestros e denúncias de tortura, o chefe da quadrilha muda o tom e declara guerra à polícia. Este é um dos momentos mais tensos das gravações telefônicas.
Codorna: "Os 'cara falo' que vai 'matá nóis' e tudo."
Andinho: "Falou?"
Codorna: "Falou"
Andinho: "Ah, então já 'vamo pro regaço', mano. 'Vamo' desentocar os 'bico' (fuzil na linguagem dos traficantes, segundo o MP) e já era, mano.
Codorna: "Manda uns 'prá nóis' aí?"
Andinho: "Tem lá, tem."
Codorna: "Manda uns dois, três, aí"
Andinho: "Os 'cara' não 'é' maior que ninguém, tem que fazer o serviço deles, mano. 'Nóis' tem que esconder o bagulho e eles têm que achar. Achou. Primeiro faz o 'trampo'. Quer dinheiro? A gente dá o dinheiro. Se quer mandar 'prá' cadeia, firmeza total, eles 'tá' fazendo o serviço deles. Mas, 'ô' mano, falar que vai matar, que vai fazer não sei o quê, ficar mandando recado! Os 'cara' 'tomô' R$ 2 'milhão' seu já, né?"
Cordona: "Foi."
Andinho: "Então o cara já tomou quase R$ 2 'milhão' e depois fica nessa que vai matar, forjando os outros e tudo. Isso é mais vagabundo que vagabundo".
Escutas revelam que Andinho manda matar policiais (Foto: Reprodução/EPTV)Escutas revelam que Andinho mandou atacar
policiais com fuzil (Foto: Reprodução/EPTV)
Após essas interceptações, o MP conseguiu autorização da Justiça e prendeu 13 policiais civis e dois traficantes. Quatro foram soltos após prestarem depoimento no Ministério Público. A Secretaria de Administração Penitenciária informou que, em maio deste ano, apreendeu um telefone celular na cela de Andinho. E, segundo a secretaria, quem é pego nesta situação é punido.
Depoimentos
O Ministério Público (MP) ouve na tarde desta quinta-feira (1º) dois traficantes de drogas suspeitos integrarem a quadrilha de Andinho e de pagarem propina a policiais civis de Campinas e São Paulo para não serem presos. Os depoimentos estão marcados para às 13h  na sede do Gaeco, em Campinas.
Devem ser interrogados o traficante Flaviano Lima de Oliveira, conhecido como 'Aquiles', considerado pelo MP o sócio de Wanderson Nilton de Paula Lima na distribuição de drogas, além de Carlos Alberto da Silva, conhecido como 'Frango', que seria o responsável direto pelo armazenamento e preparo dos entorpecentes vendidos pela quadrilha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Total de visualizações de página