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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Não é só no Maranhão

Não é só no MaranhãoPDFImprimirE-mail
Qua, 15 de Janeiro de 2014 10:08
150114quadrogeral
O caos no sistema prisional também existe no poderoso estado de São Paulo.


Os conflitos envolvendo o sistema prisional maranhense, posto à vista do público mundial nos últimos dias, infelizmente retratam uma situação caótica que se espalha por todo o país – inclusive no estado mais rico da nação. Em São Paulo, os servidores do sistema prisional se encontram em estado de greve desde novembro. A greve pode ser deflagrada a qualquer momento, já que os problemas fartamente denunciados pelos funcionários não são sequer dialogados com o governo, que se nega a ouvir os representantes sindicais da categoria.

A superlotação carcerária, questão que respalda a maioria das revoltas dos presos, bate recordes em São Paulo. São 158 unidades prisionais no estado, e todas estão com lotação acima de sua capacidade. Em outubro passado a SAP divulgou os números da população carcerária e evidenciou que 16 unidades já tinham uma lotação três vezes maior que sua capacidade. O CDP I de Osasco era, na ocasião, o mais superlotado: com capacidade para abrigar 768 presos, estava abrigando 2.673 detentos.
Não à toa, a profissão de agente penitenciário é considerada uma das mais estressantes do mundo. Além das péssimas condições de trabalho, há sempre o risco de agressões e violências de todas as formas.
Se no Maranhão os presos chocaram o mundo com denúncias de agressão física por parte dos agentes, em São Paulo essa situação se reverte: são os presos que agridem cotidianamente os funcionários. Nos últimos três dias, por exemplo, o SIFUSPESP recebeu denúncia de 4 casos de agressão a servidores. Os funcionários andam tão temerosos que alguns sequer denunciam formalmente seus agressores, temendo represálias. E quem pensa que só os presos do sexo masculino são agressores, não conhece a realidade dos presídios femininos, onde as agressões são ainda mais comuns.
Na Penitenciária de Iperó houve uma agressão a servidor dia 28 de dezembro. Os agressores seriam penalizados com 15 dias de isolamento sem receber visitas. No entanto o diretor da penitenciária resolveu anistiar os presos, liberando-os da punição, mesmo sendo reincidentes. Isso revela outro problema sério no sistema: assédio moral, excesso de discricionariedade e abuso de poder por parte de chefes e diretores (cargos comissionados do governo) em detrimento aos direitos dos funcionários, piorando ainda mais a sensação de insegurança no serviço. Servidores que reclamam de seus diretores são transferidos para outros municípios sem nenhuma justificativa, de um dia para o outro.
Isso sem falar no poder dos presos, agrupados em facções criminosas – uma mais violenta e repressora que a outra. As facções são comumente retratadas como “entidades” de “benefícios e organização” dos presos. A realidade, porém, é outra. As facções impõem regras no funcionamento das unidades prisionais, no comportamento dos presos, mas também são elas que autorizam ou determinam as agressões a funcionários, assassinatos dentro e fora das unidades, os motins, as rebeliões, a fabricação de armamentos feitos com materiais comuns; obrigam centenas de pessoas a se arriscarem a ser presas para levar-lhes drogas e armas – quanto a esta informação, basta ver nos presídios paulistas quantas das mulheres estão presas ali por tentarem entrar com armas ou drogas em presídios masculinos.
ESTADO DE GREVE
A situação no Maranhão é péssima e exige ações de curto, médio e longo prazo. Mas no restando do país a realidade é a mesma. Em São Paulo a situação chega a ser muito pior.
E se no Maranhão há um governo que vira as costas para o sistema prisional, o que se pode falar de São Paulo? Há um governo que não negocia com os trabalhadores, nem sobre a questão salarial, nem sobre condições de trabalho. Um governo que não ouve as reivindicações dos trabalhadores que há anos denunciam as mazelas do sistema e cobram uma política prisional séria no estado, incluindo investimentos em pessoal e em tecnologia.
Os servidores do sistema prisional paulista se reuniram em 13 de novembro passado na sede do sindicato da categoria, o Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo, e, em assembleia, decretaram estado de greve. Isso porque o governo sequer conversou com seus representantes sobre as reivindicações feitas no sentido de melhorar salário, condições de trabalho, e elaborar um plano sério para o sistema. A greve pode ser deflagrada a qualquer momento.
As questões levantadas pelo pesquisador desde então endossam as principais reivindicações da categoria nas negociações de campanha salarial. São tantos os problemas dos trabalhadores que o SIFUSPESP reparte a sua pauta de reivindicações em duas: a salarial e a de condições de trabalho (http://www.sifuspesp.org.br/index.php/materia-2/1516-180612pautas.html ehttp://www.sifuspesp.org.br/index.php/materia-4/1672-02012013-sifuspesp-protocola-pauta-da-campanha-salarial-2013-na-sap.html).
Outro dado mórbido: em 2013 seis agentes penitenciários foram brutalmente assassinados nas ruas (fora das unidades). Não se sabe do resultado da apuração desses crimes, e quantos deles aconteceram por retaliação ao serviço que prestam à sociedade.

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