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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

“A gente sai de casa e não sabe se volta vivo”, diz agente penitenciário de Pedrinhas

“A gente sai de casa e não sabe se volta vivo”, diz agente penitenciário de Pedrinhas

Funcionário revela funcionamento do complexo e aponta desafios no cotidiano na prisão
http://r7.com/yFR9
Thiago de Araújo, do R7
Longe de ser tranquila, a vida dos agentes penitenciários do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, é atravessada pelo descaso e, sobretudo, pelo medo. Quem diz isso é Roberto (nome fictício), servidor público do sistema carcerário maranhense há 32 anos. A rotina de trabalho deixou marcas na saúde do agente que já não se surpreende com rebeliões e mortes de detentos no local.  
— O medo é constante. A gente sai de casa e não sabe se volta vivo.  

O agente penitenciário concordou em falar com o R7 sobre a rotina e a vida em Pedrinhas, sob a condição de manter o anonimato. Quando o relógio na prisão bate 17h, chega ao fim o turno de Roberto, que hoje começa às 7h.  
— Sinto um alívio muito grande quando saio de lá e vou para casa. Apesar de a gente viver uma tensão constante, nos preocupamos o tempo todo, tanto lá como estando em casa, pelos colegas que estão lá.  
Até a última segunda-feira (20), cerca de 230 agentes penitenciários trabalhavam no complexo, de acordo com dados fornecidos pelo Sindspem (Sindicato dos Servidores do Sistema Penitenciário do Estado do Maranhão). Uma portaria da Sejap (Secretaria de Justiça e Administração Penitenciária) determinou, porém, a saída de todos os agentes, que agora não estão mais em contato direto com os presos, atividade agora exclusiva dos monitores terceirizados. A medida, na opinião de Roberto, está longe de ser positiva.
Confirmando informação repassada ao R7 neste mês pelo juiz da 2ª Vara de Execuções Penais, Fernando Mendonça, o agente diz que as duas principais facções criminosas de Pedrinhas — PCM (Primeiro Comando do Maranhão) e Bonde dos 40 — são separadas unicamente por um muro.
Segundo ele, os detentos estão atualmente trancados somente dentro dos pavilhões, ficando livres para circular entre as celas — a maioria permanece destrancada.
— Quando saio de casa peço ajuda a Deus, porque lá estamos jogados a 'Deus dará', sem apoio de ninguém. A secretaria (Sejap) está nos maltratando, as cadeias estão todas deterioradas, os presos não estão trancados em celas atualmente, somente no pavilhão, e eles é que estão mandando e desmandando no sistema penitenciário maranhense.  
Rotina e problemas de saúde  
Ao chegar a Pedrinhas, os agentes penitenciários batem o ponto e se informam sobre as ocorrências do dia anterior. O trabalho envolve liberar os presos para um período de banho de sol e prestar eventual assistência aos que estejam doentes, além de outros trabalhos administrativos.
Todavia, esse contato com os detentos está longe de ser tranquilo. Segundo a Sejap, o complexo possui 2.704 presos, sendo 1.556 provisórios — quase o dobro da capacidade máxima. Roberto relata que “dois ou três” servidores entram em “15, 20 celas” com “mais de cem presos”, o que coloca a segurança dos agentes em risco.
— Eu gosto do que faço, mas hoje em dia estou louco para me aposentar. Tenho 32 anos de serviço e o sistema penitenciário nunca foi bom, mas nunca esteve tão ruim como está agora.   
Aos 57 anos, Roberto ainda precisa trabalhar mais três anos no sistema penitenciário antes de completar 60 anos e completar 35 anos de contribuição, podendo assim se aposentar. Entretanto, ele enfrenta dificuldades para completar o período em razão de problemas de saúde, os quais ele diz serem comuns à categoria.
— O agente penitenciário normal aqui trabalha no período de 24 horas por 72 horas. Começa às 7h até as 7h do outro dia, mas eu estava trabalhando no apoio, das 7h às 17h. É por problema de saúde. Hoje não temos um agente penitenciário aposentado. Todos morrem antes de se aposentar. Temos muitos problemas de saúde aqui, [como] alcoolismo. Eu sou diabético e hipertenso, então pedi para me colocarem em um horário melhor, trabalhando agora um dia sim, um dia não.  
O agente conhece as críticas ao trabalho dele e dos colegas em Pedrinhas. Quando o assunto são armas, drogas e outros itens que passam pela revista no complexo, Roberto reconhece a possível existência de uma “banda podre” na categoria, mas compartilhou também a culpa com a direção do complexo e com o secretário Sebastião Uchôa.  
— A gente fica até preocupado e se pergunta: 'Como é que entra?' Mas tem tanta facilidade, tanta coisa que entra sem ser revistada, é um absurdo a gente vê lá dentro de Pedrinhas até hoje. Lá dentro dos pavilhões tem dois freezers. Para quê? Como reportagem mostra entrada de comida? É tudo autorizado. Se entra televisão, é porque o diretor autorizou. E se isso acontece, é porque o secretário sabe que entra.

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