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segunda-feira, 21 de abril de 2025

O Dia de Tiradentes e a Construção Social da Memória no Brasil

O dia 21 de abril é celebrado nacionalmente como o Dia de Tiradentes, em homenagem a Joaquim José da Silva Xavier, mártir da Inconfidência Mineira. Essa data, instituída como feriado nacional desde 1890, logo após a Proclamação da República, rememora a luta pela liberdade e pela independência do Brasil do domínio português.

No entanto, além de seu valor histórico, essa celebração também revela como a sociedade constrói e utiliza a memória coletiva de forma simbólica e política. A sociologia oferece importantes reflexões sobre esse fenômeno. Émile Durkheim, por exemplo, entende os feriados cívicos como mecanismos de coesão social. O Dia de Tiradentes, nesse sentido, funciona como um ritual coletivo, reforçando valores como o patriotismo e a liberdade.

A figura de Tiradentes atua como um totem laico, símbolo em torno do qual a sociedade reafirma sua identidade. Contudo, segundo Maurice Halbwachs, a memória coletiva não é espontânea, mas moldada por instituições como o Estado, a escola e a mídia. A imagem heroica de Tiradentes foi ressignificada pela República para sustentar ideais de liberdade e justiça, muitas vezes excluindo outras figuras e movimentos populares da história nacional, como as revoltas de escravizados e indígenas.

Essa seletividade também é analisada por Michel Foucault, que entende a história como instrumento de poder. O uso da figura de Tiradentes como mártir serve para legitimar uma narrativa oficial, promovendo uma forma aceitável de resistência. Da mesma forma, Pierre Bourdieu argumenta que essa representação acumula capital simbólico, fortalecendo a autoridade de instituições como as polícias, das quais Tiradentes é patrono.

A sociologia crítica brasileira, representada por autores como Florestan Fernandes e Jessé Souza, aponta ainda que a exaltação simbólica da liberdade pode esconder desigualdades reais. O discurso de heroísmo e luta por justiça nem sempre se traduz em avanços sociais concretos para a população brasileira. Assim, a celebração pode tornar-se uma encenação democrática, que reverencia o passado libertário sem promover transformações no presente.

Portanto, o Dia de Tiradentes é mais do que uma data comemorativa: é um espelho das formas como a sociedade constrói, molda e utiliza sua própria história. Refletir sobre essa celebração permite questionar o que lembramos, o que esquecemos e, sobretudo, por que essas escolhas são feitas. Dessa forma, a memória se torna não apenas um exercício de lembrança, mas uma ferramenta de crítica e transformação social.

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