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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Núcleo do PCC tem oito presos, diz Lourival Gomes

Núcleo do PCC tem oito presos, diz Lourival Gomes

Secretário de Administração Penitenciária de SP afirma que se tivese de aceitar preso comandando presídio já teria deixado o cargo

15 de setembro de 2013 | 23h 16

Bruno Paes Manso - O Estado de S. Paulo
O atual secretário de administração penitenciária, Lourival Gomes, vive há 42 anos a dura rotina do sistema penitenciário. Poderia estar aposentado, mas evita falar no assunto. Ele assumiu o cargo em 2009, substituindo seu amigo pessoal, Antonio Ferreira Pinto, que assumiria a Secretaria de Segurança Pública.

Ferreira Pinto caiu em novembro do ano passado, mas Gomes seguiu comandando os presídios. Poucos conhecem como ele a história do sistema penitenciário paulista que, entre outros episódios, produziu em 1992 o Massacre de 111 presos na Casa de Detenção do Carandiru e de onde saiu o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção ainda hoje pouco compreendida.
Discreto, essa foi a primeira entrevista longa que Gomes concedeu a um jornal. Ele não gosta de falar da facção, o que fez por causa da insistência da reportagem. Acredita que falar sobre o tema ajuda a glamourizar o grupo. Silenciar a respeito, no entanto, já obrigou os moradores de São Paulo a testemunharem surpresos duas séries de rebeliões e ataques que entraram para a história do crime e da segurança pública no Estado. Abaixo, segue a entrevista.
Estado - Quatro acusados de matar o garoto boliviano Brayan Capcha, de 5 anos, foram assassinados nas prisões. As suspeitas é de que o PCC está por trás dos ataques. É possível acusar o Marcola do crime?
Lourival Gomes -
 Nós ainda não temos essa informação. No jornal, vi que promotores, agentes, membros do judiciário e policiais passaram a informação para os repórteres. Essas pessoas devem prestar depoimento para que possamos acusar alguém.
Dois dos suspeitos morreram no Centro de Detenção Provisória depois de envenenarem com "Gatorate" (mistura de cocaína e Viagra). Mortes como essa são recorrentes? Não posso dizer se são frequentes porque não tenho os números. Mas quando existem indícios ou testemunhos de que houve assassinatos com essas substâncias, o delegado investiga.
Desde as megarrebeliões de 2006 e dos ataques do PCC, as rebeliões e fugas diminuíram? Qual o papel da gestão do sistema e do PCC nessa mudança?O preso sabe qual é a nossa filosofia. Primeiro, nós só negociaremos rebeliões se não houver refém e depredação. Não se deve negociar depois que o presídio está quebrado. Houve três grandes rebeliões quando chegamos, em junho de 2006. Nós sabíamos que seríamos testados. Era natural. Nós ainda não tínhamos montado inteligência. Mas se acontecer, não se negocia nessas condições. Segundo: os presídios estão todos superlotados, não tem para onde ir. Portanto, ficarão onde estão. Vidros? Sim, vidros que eles quebraram. Dormindo com dificuldades? Sim, mas eles deram motivos. Isso espalhou e os presos pensaram: não vão fazer nada. E eles quebraram Mirandópolis, Araraquara e Itirapina. Ficaram lá. E ali nasceu uma filosofia do Estado que se tornou medida do Estado.
O ex-secretário de Segurança, Antonio Ferreira Pinto, disse que o PCC se resumia a no máximo trinta presos influentes. O senhor concorda com essa afirmação?A entrevista está focando muito no crime organizado, como se fosse a melhor coisa da imprensa brasileira.
São raras as oportunidades para perguntar o que ocorre.Eu posso dizer que o núcleo do crime organizado são oito presos. Um desses oito está no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). E o outro está na Penitenciária Federal de Porto Velho. Se fosse tão forte ou tivesse todo esse poder, quando se colocasse um líder no RDD, estourava o Estado. Quando mandasse um para prisão federal estourava de novo. Além disso, toda vez que alguém mostra que quer liderar alguma coisa, a gente tira e transfere do presídio.
Qual o papel da facção no estabelecimento da disciplina e da ordem nos presídios?Quem estabelece a disciplina e a ordem são 35 mil corajosos funcionários do sistema penitenciário do Estado de São Paulo, pessoas dedicadas, voluntariosas e abnegadas. Se eventualmente houvesse comando do crime organizado nos presídios, eu teria sido denunciado pela Polícia Civil, Militar, Ministério Público, Polícia Federal. Aliás, se um dia eu precisar aceitar essa condição do preso comandar o sistema prisional, eu teria vergonha e iria embora daqui.
Não há dificuldade de os agentes entrarem nos raios para mediar a rotina dos presos?Diariamente é feito bateção de grade e de cela (ação para conferir se a grade não está cerrada e checar os pisos para que não haja túneis). Como isso seria possível sem os agentes nos raios? Lamentavelmente, alguns pesquisadores pegam três grãos de areia para falar sobre o deserto.
No ano passado houve a crise na segurança, quando integrantes da facção deram ordens para matar PMs. Como o PCC consegue manter essa influência?Esses salves não saíram de dentro das prisões. Eles vieram de um preso que estava em Itajaí, Santa Catarina, do lado de fora. Isso nós ficamos sabendo depois. Os nossos departamentos de inteligência acompanharam. Nós sabíamos que vinha de alguém que estava fora. Essa ação do crime organizado contra PMs, civis e agentes, rompeu o lacre da prisão federal. Nós não tínhamos nenhuma intenção de mandar preso para presídios federais porque nós temos ferramentas para combater o crime organizado em São Paulo. E todos aqueles que conseguimos identificar que de fato participaram da ação de assassinatos de agentes públicos foram para prisões federais. Já há 15 e temos mais cinco ordens para executar. Tem mais alguns casos em andamento.
Quais foram os maiores erros cometidos no sistema nessa década?As transferências volumosas de presos de um lugar para o outro. Nós fazemos transferência todos os dias. Nós precisamos retirar um preso que está surgindo como liderança de facção. Tira, manda, não vamos esperar a situação se avolumar. É por isso que eu falo. As transferências são todos os dias, não de uma vez só.
Por que o RDD tem 160 vagas e só 20 presos?Pois é. Nunca houve tão poucos presos lá. Só que tem uma coisa: tem outro RDD que nós nem inauguramos, que fica na Penitenciária I de Avaré. São 80 vagas. Eu, enquanto secretário, junto as informações que vêm das prisões, faço um expediente e encaminho para o juiz. O juiz interna quando acha que tem que internar e não permite a internação dos casos em que ele não vê necessidade.


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