20 Anos de PCC – o Efeito Colateral da Política de Segurança Pública
por Bruno Paes Manso, Marcelo Godoy
Bruno Paes Manso é repórter do jornal O Estado de S. Paulo e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo.
Marcelo Godoy é chefe de reportagem do caderno Metrópole do jornal O Estado de S. Paulo
No dia 6 de outubro, ocorreu mais um “pancadão” na cidade de São Paulo, do qual poucos tiveram notícias ou puderam participar. Ao som do funk estilo ostentação das periferias paulistanas, mulheres celebraram o aniversário de 20 anos do Primeiro Comando da Capital (PCC). Sem mesmo que as autoridades soubessem, a festa ocorreu dentro da Penitenciária Feminina de Santana, unidade com quase 600 mulheres e espaço para 251 pessoas. Um MC (cantor de funk) veio de fora para tocar na balada, numa cena insólita, mais uma entre tantas as surpresas que a presença e a força do PCC em São Paulo ainda conseguem provocar.
Ao longo dessas últimas duas décadas, desde seu nascimento, no dia 31 de agosto de 1993, já são muitos estudos e reportagens feitas sobre a facção criminosa. A maior parte dos dados foi colhida a partir de grampos e documentos de investigações policiais, mas também foram feitas entrevistas com seus integrantes, que tiveram suas histórias descritas. Ainda assim, existem lacunas a serem preenchidas, questões relevantes que não foram desvendadas. Se os segredos do PCC pudessem ser mostrados pela imagem de um quebra-cabeça, poderia se afirmar que ainda estamos no meio da jornada, em busca das peças-chaves para conseguir enxergar toda a imagem.
Parte das peças desse quebra-cabeça chegou com a investigação feita pelo Ministério Público Estadual (MPE) de São Paulo nos últimos três anos, reveladas pelo jornal O Estado de S. Paulo, que resultou na denúncia de 175 acusados de pertencerem ao grupo. A quantidade de informações reunidas foi um passo importante para se compreender o atual estágio de maturidade do PCC. É como se, de repente, inúmeras peças se encaixassem ao mesmo tempo e apresentassem um retrato mais preciso da facção. Foram milhares de escutas que captaram horas e horas de conversas entre as principais lideranças, além de documentos e provas que chegaram até nas relações promíscuas que os criminosos mantêm com integrantes das forças de segurança. Informações que precisam ser filtradas e contextualizadas na história da facção e do crime em São Paulo.