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sábado, 15 de abril de 2023

Os inimigos invisíveis do crime organizado




*Fabio Jabá, policial penal e presidente do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional de São Paulo (SIFUSPESP)


O plano recém-descoberto para sequestrar o senador Sergio Moro, sua esposa, a deputada Rosângela Moro, e seus filhos, trouxe luz a várias realidades, mas poucas delas foram exploradas pelas acaloradas discussões políticas nas mídias sociais e na imprensa: existem vidas mais valiosas do que outras?


A pergunta é necessária ao perceber a pouca ou nenhuma repercussão sobre as ameaças a pelo menos nove servidores da segurança pública listados entre os alvos da facção criminosa. Estamos falando de policiais civis, militares e penais, paulistas e federais, que estão na linha de frente do combate ao crime organizado. Eles também foram jurados de morte, mas pouco ou nada se falou deles e das providências que o Estado brasileiro adotou para proteger suas vidas.


São servidores que reviram esgotos e latrinas de celas, onde frequentemente encontram anotações com planos de fuga e cartas com ordens de assassinatos e sequestros de autoridades. Sem este trabalho, muitas intenções de vingança já teriam ido a cabo. E é justamente por serem a própria face do Estado diante do crime que esses servidores e suas famílias são constantemente ameaçados.


Por mais difícil que seja a natureza diária do trabalho, os policiais são vocacionados e amam o que fazem. No caso da Polícia Penal de São Paulo, a maior do país, a precariedade da estrutura é a maior carência da profissão, porque dela decorrem todos os demais problemas que afligem a nossa categoria. 


As unidades superlotadas diante de um efetivo insuficiente tornam o ambiente prisional um inferno para todos os envolvidos: policiais, servidores, detentos e visitantes. Sobram motivos para explicar porque a expectativa de vida de um policial penal é de 45 anos, enquanto a dos demais brasileiros é de 76 anos. 


Nesse ambiente insalubre, sob ameaças constantes, a saúde física e mental se deteriora. Os baixos salários conferem uma pressão extra que desestimula a permanência na profissão. 


Saímos de casa todos os dias com a morte à espreita, apenas porque cumprimos o nosso dever. Muitos colegas servidores morrem pela violência ou pelas doenças causadas pelo estresse do ambiente de trabalho, considerado o segundo mais perigoso do mundo e o primeiro na área de segurança pública.


Ficamos felizes em ver a pronta ação da Polícia Federal, que em 45 dias investigou e prendeu os envolvidos. Também alegra ver como a PM do Paraná e a Polícia Legislativa foram prestativas e eficientes na proteção da família Moro. Isso é a prova de que o Estado funciona, mas assim deve ser para todos os brasileiros, não apenas para alguns. 


Também é confortante saber que essas autoridades dispões de carros blindados e segurança armada fornecidas pelo Estado brasileiro, mas devo alertar que nem todos são tratados da mesma forma. 


É relevante lembrar, mais uma vez, que são policiais dando proteção ao senador, ao custo potencial de suas próprias vidas. Os protagonistas do escândalo, quase todos políticos, estão protegidos na forma da lei. Mas quem protege os que estão vulneráveis por enfrentar diária e diretamente o crime organizado?

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